Se, hoje, você aprecia uma xícara de chá de qualidade e vê um mercado mais amadurecido para a bebida, deve agradecer (e muito!) às mulheres. Isso porque elas desempenham um papel significativo e crucial no cultivo, colheita e processamento da Camellia sinensis há milhares de anos, provando que as mulheres e o chá têm uma relação muito mais profunda do que imaginamos.
Em algumas regiões produtoras, apenas mulheres são contratadas para a colheita de chás especiais. A justificativa é que, por se tratar de um trabalho minucioso e que exige olhar atento e bem treinado para que apenas as melhores folhas sejam coletadas, as mulheres o realizam com primazia, colaborando com a excelência na qualidade do chá.
Além disso, as mulheres frequentemente se envolvem em atividades de classificação e processamento, onde separam cuidadosamente as folhas de chá com base na qualidade e no tipo. Esta etapa é crítica para manter o sabor e as características desejadas da bebida.
Em muitas comunidades, as mulheres também estão frequentemente envolvidas em iniciativas comunitárias de cultivo de chá. A sua participação contribui para o desenvolvimento social e económico das regiões produtoras, sendo que são elas as idealizadoras de cooperativas e entidades sociais. São elas as responsáveis por “contagiar” a comunidade com o senso de colaboração e coletividade.

O chá e a agricultura familiar
De acordo com Yuri Hayashi, fundadora da Escola de Chá Embahú, a região da Ásia e do Pacífico utilizam o sistema de agricultura familiar desde o passado remoto até os dias atuais (74% deste sistema encontra-se ali, em relação ao mundo). E, de forma muito natural, houve a divisão de trabalhos na família: os homens faziam as tarefas mais físicas (como arar o campo) e as mulheres, as tarefas mais delicadas.
“Tratando-se de trabalho nos chazais, as mulheres possuíam mãos pequenas, sendo uma vantagem na colheita das folhas novas da planta. Sua altura também era mais adequeda ao nível dos arbustos de chá. Além disso, elas tinham mais paciência em colher os melhores brotos e gostavam de se entreter conversando enquanto faziam o trabalho. Com o tempo, isso tornou-se sua especialização e o lucro familiar melhorava progressivamente em relação ao número de mulheres na família”, explica Yuri.

Ainda de acordo com a professora, a década de 1990, na China, foi marcada por uma expansão na agricultura, trazendo novas oportunidades. Isso fez com que os cuidados com o tradicional cultivo da Camellia sinensis ficasse sob responsabilidade das mulheres, que eram muito mais precisas e cuidadosas, como o chá exige.
Mas, se você pensa que o papel das mulheres se restringe apenas à colheita do chá, ledo engano. Muitas mulheres ganharam destaque na indústria moderna por estabelecer práticas inovadoras, introduzindo novas tecnologias e visões modernas de empreendedorismo e sustentabilidade.
Com o posterior crescimento da cultura do chá na China e demanda mundial, as mulheres passaram a ocupar novas funções, administrativas e organizacionais, o que impulsionou ainda mais a presença feminina neste mercado, especificamente, na China e em outros países asiáticos, como Vietnã, Japão, Coreia do Sul, entre outros.

Mulheres e o chá: para além da produção
Dentro das comunidades produtoras de chá, as mulheres desempenham um papel importante também na implementação de iniciativas educativas e de saúde, impactando positivamente a condições de vida da população em geral.
Além disso, é importante mencionar o papel feminino na preservação das práticas culturais relacionadas ao cultivo e processamento do chá. Afinal de contas, os conhecimentos e métodos ancestrais são transmitidos de geração para geração, e as mulheres são as grandes guardiãs dessas práticas.
Em resumo, as mulheres são parte integrante do processo de produção do chá, contribuindo para o trabalho, o desenvolvimento comunitário, a inovação, a sustentabilidade e a preservação cultural. Reconhecer e apoiar o papel das mulheres na indústria do chá é essencial para promover a igualdade de género e alcançar o desenvolvimento sustentável e inclusivo nas regiões produtoras.